Uma reflexão a respeito do desmame respeitoso!
A faculdade, a residência e os livros nos preparam como profissionais para muitas questões técnicas, como fazer diagnósticos e guiar tratamentos. Mas, na prática, quando a mãe está com o bebê no colo na nossa frente, muitas perguntas que ela nos traz não estão nos livros - e a nossa formação não nos preparou para elas.
Uma dessas perguntas, que é bem frequente diga-se de passagem, era sobre “como desmamar meu filho?”.
Ok, a primeira vez que me perguntaram isso me deu tela azul - fiquei paralisada pensando “já estudei sobre amamentação, sobre importância do leite materno, sobre manter aleitamento até pelo menos dois anos de vida… Mas por que ninguém nunca me ensinou sobre como conduzir o desmame?”

Fui pesquisar. Encontrei várias dicas daquelas que todo mundo vai te falar, mas não achei um “guia científico para o desmame”. O desepero começou a bater quando a conclusão em várias páginas era “converse com seu pediatra” (SOS)! Fui juntando as coisas que faziam sentido - um pouco aqui, um pouco alí-, orientava de uma forma que acreditava que fosse funcionar. Algumas pacientes voltavam dizendo que tinha funcionado, outras que não, enfim, estava ok com isso, até o momento que… eu resolvi desmamar minha própria filha.
Ela já havia passado dos dois anos e ainda se mostrava muito apegada ao tetê (eu conto melhor a história de como foi no meu instagram) e eu não fazia ideia de como proceder esse tal do desmame. Chegou ao ponto de eu me sentir tão hipócrita dando aquelas orientações, que quando as mães me eu simplemente respondia “olha, se descobrir me conta que eu também to precisando”.
Mas, deu certo! Depois de ter vivido lindos 2 anos 8 meses e 17 dias de amamentação e ter finalmente concluído o desmame da minha filha, aprendi muitas lições, e é isso que vou tentar passar pra vocês aqui, com muito carinho:
Respeite seu feeling. Quem determina o momento do desmame não é sua família, seu pediatra, ninguém externo - é você e sua criança, apenas. Você precisa sentir que você está preparada para o desmame - e como vai saber isso? Se tiver alguma dúvida de “será que quero mesmo?”, “será que não vou me arrepender” é porque não está na sua hora. E você precisa sentir que sua criança estará pronta também. Essa parte nem sempre é fácil, por isso digo que é feeling, nenhum manual ensina. Mas diria que, no meu caso, foi perceber que ela já tinha reduzido o apego a tetê, já estava processando a ideia do desmame, já estava desenvolvendo uma certa autonomia em relação às mamadas e que, eu sentia que ela teria maturidade para entender o processo do desmame como um ciclo que se encerrou (e não um “abandono ou recusa” da mãe).
Converse com sua criança. Seu filho entende mais do que você imagina. Explique que um momento o “tetê vai acabar”, ou secar - o termo que preferir, que ele está ficando uma criança grande e que não precisa mais tanto do tetê para crescer.
Recomendo uma transição gradual. Acho triste para a criança que é super apegada ao peito, suspender tudo de uma vez do dia pra noite. Recomendaria ir aos poucos - tirando da livre demanda (ou seja, ofertando o seio apenas em horários específicos), depois ir diminuindo os horários até deixar apenas uma mamada por dia.
Mime seu filho. Ou, em outros termos, lamba sua cria rs. Mostre como agora ele é uma criança grande, faça algum mimo, uma medalha da coragem, brinque de algo que ele goste, mas o importante é que nesse período do desmame você continue junto do seu filho, mas fazendo outras coisas. Muitas mães acabam “fugindo” seu filho nesse processo pra criança não lembrar e não pedir o tetê, mas acredite, pode ser doído para a criança, além de estar sem o tetê, achar que a mãe está distante. Pode gerar um sentimento de “rejeição” e isso não é legal. Então leve seu filho pra passear, caminhar no bairro, ver as árvores, distraia a criança nesses momentos pra que ela não lembre de pedir o tetê, mas não deixe de estar junto!
Lembre-se de ser grata. Expresse ao seu filho que se sente grata pelo tempo que o amementou. Agradeça-o por ter te dado a chance de amamenta-lo. E, mais importante, seja grata a si mesma e reconheça seu esforço por toda entrega nesse período.
O que eu mudaria no meu desmame: a última mamada que deixei foi a de antes de dormir. Acho que esse foi o fator de maior dificuldade no desmame, porque minha filha tinha feito associação de sono com o tetê.
Hoje em dia muito se fala do desmame gentil, mas, como todo ciclo que se encerra, pode ser que seja uma fase difícil. Pode ser que você precise adiar os planos de desmame, ou dar um passo atrás no processo, e tá tudo bem. O importante é que seja um desmame respeitoso com você e com o seu filho, feito de uma forma amorosa e consciente. Vai dar certo!
Com carinho, da Ped